-Você
já terminou? Ouviu a menina que se dividia entre as atividades da escola, o choro do irmão caçula e os
afazeres domésticos enquanto seu irmão se divertia em frente à televisão. A mãe
acreditava que o menino não deveria se envolver com as tarefas do lar, pois
poderia afeminar-se causando a tragédia da família. Assim, cresciam as meninas
em tempos remotos e a história se repete hodiernamente. O sexo feminino se
acua entre a família e a sociedade
machista e não avista a saída para a sua ascensão pessoal e profissional.
Estamos
no século XXI e ainda se veem mulheres bem sucedidas que se acorrentam a
relações tóxicas por submissão ou dependência emocional. O olhar duro da
sociedade ainda as espreita minando seus sonhos e elas fingem que estão
felizes, mas seus olhos são tristes como os dos pássaros cativos. Recolhem-se em
sua fatídica condição de serem mulheres neste mundo de homens e se resignam à
espera de que algumas delas, em atitude de coragem, possam reverter este quadro
ou mesmo acreditam ser sua sina irreversível e seguem sem esperanças.
Fala-se
em emancipação feminina, mas na calada da noite, em cantos escuros,
meninas,mulheres são violentadas e agredidas em sua integridade física e
moral como se fossem apenas um pedaço de
carne ou desvalorizadas em sua capacidade mesmo proferindo belos discursos
vestidas com seus taillers. Não importam suas considerações, estão fadadas ao
desrespeito por sua condição de mulher, é o fardo que terão que carregar em
todos os meios sociais.
Quando
agraciadas pela beleza, tornam-se objeto de desejo sexual masculino e perdem
ainda mais seu vínculo com o cordão umbilical da humanidade. São bonecas de
luxo para se apresentar ao mundo, são seres vazios que apenas sorriem
superficialmente escondendo um traço de amargura e ressentimento por não terem
voz, por se aprisionarem na bela
aparência que esconde o que se revolve em seu coração. São também escravas de
padrões rígidos que determinam que elas têm um prazo de validade.
Moramos
em um país que machuca suas mulheres e as relega à cultura de inoperância e
baixa autoestima. Cresceram sob a égide de uma educação castradora que limitou
sua crença em seu próprio poder de decisões e escolhas. Certamente temeram seu
potencial e as educaram para serem como os seres rastejantes, quando poderiam
voar. Recearam sua potencialidade, pois estas saberiam guiar-se tanto pela
inteligência, quanto pela emoção.
Mulheres,
ergam suas cabeças e lutem contra este sistema que faz uma execução sumária de
suas vontades, enfrentem esta sociedade limitante, saíam desta submissão velada
e assumam seu verdadeiro poder, o poder que existe em cada uma de nós e que
pode transformar uma realidade, mudar o tom púrpura que nos colore as faces e nos deixa um traço de descontentamento
com a vida. Firmem os passos em direção a um futuro glorioso para o sexo forte.
Elzenir Apolinário