
Depois de uma vida inteira me impressionando com a morte, resolvi entendê-la e aceitá-la. Mas a morte inclui mais coisas que julga nossa vasta ignorância. Em minhas leituras da obra:A menina que roubava livros, de Marcos Zusak, tenho visto o que a narradora indesejada por todos tem a dizer sobre nós, humanos. A morte, como narradora do livro, mostra suas razões e como é árduo seu trabalho. Mas ela se espanta com nossa vontade, gana de viver. Na sua visão, somos frágeis criaturas que se apegam à linha tênue da vida.
Curiosamente ou paradoxalmente o homem se apega à vida do corpo, mas ao mesmo tempo imbui seu espírito de mágoas, egoísmo e maldade. Se o corpo é matéria frágil, por que nos alimentamos desenfreadamente de vaidades, mas descuidamos do nosso espírito que é imortal? Queremos sofregamente manter a semente da vida, uma vida que pode ser vazia, pior que a morte em si, mesmo assim, não queremos partir. Alguns acontecimentos demostram como a vida é efêmera, logo deveríamos viver com qualidade e não com quantidade. Infelizmente não é o que acontece. Nossos minutos de sensatez se esvaem rapidamente ao contato furioso da existência.
Somos autosuficientes demais para admitir nossas fraquezas, soberbos demais para encarar nosso fim, por isso agarramo-nos à centelha da vida como insanos. Somos reféns de nosso próprio mal. E, espantosamente, há pessoas que não se redimem nem no leito de morte. Queremos sim, a vida, mas devemos nos preparar para aceitar que ela não é nossa subalterna. Sabiamente ela começa e termina. Cabe apenas a nós viver de maneira honrosa e poder dizer que, em qualquer momento em que ela se findar, seremos plenamente convictos de que aquele é o tempo certo. O tempo certo para encerrar uma existência bem vivida, uma tênue existência.
Elzenir Apolinário