MEMÓRIAS

Havia um tempo em que as ruas eram de terra e provocavam a alegria da criançada, as apostas eram de quem dava um salto mais distante. Mesmo quando caminhões atolavam e lançavam jatos de barro para todos os lados, viam-se sorrisos nos rostos. As ruas de terra, hoje, são lamentos de todos. Não se vê mais crianças brincando inocentemente nas ruas, pois a inocência pode custar caro.
Minha casa tinha uma janela disputada por todos, agora as janelas de minha casa vivem trancadas. Não havia um muro que separasse a casa do vizinho, pois todos eram como uma grande família. Hoje, os muros altos escondem a face dos moradores e os protege da amizade que pode haver no outro.
Os prédios não encobriam a bela Igreja Matriz, pois havia apenas um deles em tímida altura. A cidade sorria para os visitantes, agora, ela os olha com desconfiança.
A vida era simples, mas cheia de significados, uma árvore em pé servia para balanços, uma árvore cortada servia como pula pula. É que não tínhamos computadores, usávamos a sustentabilidade para construir brinquedos.
Houve um tempo em que ir à escola era como mudar de casa, pois esta era um lugar acolhedor e cheio de carinho. A professora era mãe e os colegas, irmãos. Aprender era uma aventura sem par. Uma viagem só de ida para a terra da imaginação. Hoje, quem não sabe manusear as tecnologias não sabe nada.
Ao logo do tempo, aprendemos que a evolução é necessária, mas percebemos que ela é devastadora. As coisas simples não têm lugar em nosso mundo moderno, o que é simples ficou para trás nas estradas de terra e encoberto pela poeira do tempo. Só há uma coisa que a poeira do tempo jamais vai apagar: as memórias registradas em nossas mentes daqueles bons tempos bem vividos.
Elzenir Apolinário
Em homenagem aos alunos do 1ºp. de Arquitetura da UNIPAC.